A montagem metalinguística aborda, a partir do processo de escrita do narrador, os procedimentos de construção de um espetáculo teatral. Peça será apresentada nesta quinta-feira (19/10), às 19h.
BARRA MANSA/RJ - O espetáculo "A hora da estrela”, inspirado na obra de mesmo nome de Clarice Lispector, está circulando por unidades do Sesc RJ ao longo deste mês. Nesta quinta-feira (19/10), às 19h, chega ao Sesc Barra Mansa. O espetáculo, selecionado pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar, terá os ingressos a preços populares, custando R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), além de gratuidades para menores de 16 anos, credenciados do Sesc e cadastrados no PCG.
“A hora da estrela” é o último romance lançado em vida por Clarice Lispector – escritora brasileira (embora, nascida na Ucrânia), considerada pela crítica especializada uma das escritoras mais importantes do século 20. Sua obra é objeto de estudo nos mais variados níveis de ensino pela sua capacidade de trazer para a escrita questões profundamente filosóficas. A montagem da Definitiva, por exemplo, é objeto da dissertação de mestrado de Felipe Castro, no campo da tradução intersemiótica, na Universidade Livre de Lisboa.
Comemorando 15 anos de atividades continuadas em 2023, a companhia teatral é um coletivo dedicado à produção artística e ao desenvolvimento de uma linguagem que pesquisa a relação entre a música e a cena no fato teatral, fazendo conviver essas duas manifestações artísticas de forma indissolúvel, buscando aquilo que o grupo chama de cena-música. "A hora da estrela" segue a trilha dessa pesquisa, em espetáculo que desmonta o romance e o próprio teatro num jogo metalinguístico.
"É um livro que fala sobre o trabalho do autor. Esse desnudamento do mistério da escrita através da própria escrita nos impactou enquanto estética. E é isso que tentamos também fazer: revelar os aspectos da construção teatral através do ato de construir”, diz Jefferson Almeida, adaptador e diretor.
Dividindo-se entre a figura do complexo narrador-personagem e as personagens criadas por ele para contar a saga de Macabéa - alagoana franzina de 19 anos “virgem e inócua” - os oito atores dão conta de uma encenação calcada em jogos de criação. Através dessa investigação estética, são partilhados com o público os caminhos trilhados para a realização do espetáculo. Assim como no romance, em que a música ganha destaque, entre outras coisas, através das inúmeras dedicatórias do autor fictício a compositores clássicos como "Schumann e a sua doce Clara", a Definitiva Cia de Teatro se debruça sobre as sonoridades, ritmos e canções para realçar, e até mesmo criar as camadas poéticas da encenação.
Capitaneado por Renato Frazão, diretor musical, o elenco mergulhou no cancioneiro inspirado pela obra para composição da trilha, aprendendo inclusive a tocar instrumentos especialmente para o espetáculo. A ária "Una furtiva lacrima" composta por Donizetti para a ópera italiana "O elixir do amor" - que Macabéa confunde com um samba -, é uma das componentes do repertório. Nele, figuram ainda a clássica “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga, e a inédita “Lamento de um blue”, composta por Frazão especialmente para a peça. Assim, em “A hora da estrela”, a música torna-se parte fundamental da encenação, criando uma camada densa de uma escrita musical.
“A nossa pesquisa ganha um outro dado: visto que estamos elaborando uma peça sobre como fazer uma peça a partir de um livro sobre como escrever um livro, precisamos fazer uma música sobre como fazer música, ou seja, é preciso parir essa música, operá-la, fazê-la existir. Tudo está nas mãos dos atores. Então, precisamos tocar, aprender a tocar, aprender a parir música", conclui Almeida.
SERVIÇO
Espetáculo "A Hora da Estrela"
Data: Quinta-feira, 19/10, às 19h
Local: Sesc Barra Mansa (Av. Tenente José Eduardo, 560 - Vila Nova)
Classificação: 12 anos
Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia), gratuito (menores de 16 anos, credencial plena Sesc e público cadastrado no PCG)